Cenário de guerra
Caos. Sim, não há outra palavra para definir o atual momento do país. Estamos no limite das nossas capacidades. O que se vê nos hospitais é um retrato perfeito de uma situação de guerra, onde, a todos os momentos, chegam ‘soldados’ das diversas frentes de batalha. Os hospitais, todos, estão em completa rutura. Cá fora, bombeiros que transportam os ‘soldados’ feridos ficam com as suas ambulâncias na fila. À porta. Com o doente dentro. À espera da morte. As portas abrem-se, muito lentamente, para os ‘feridos’ irem entrando, em muitos casos, longas horas depois. Lá dentro, médicos, enfermeiros e auxiliares, impotentes, com o rosto marcado de amargura e com as máscaras molhadas pelas lágrimas que os olhos soltam, tentam inventar camas, enfermarias, meios de auxílio. Desdobram-se em tarefas que não aprenderam na Universidade. Que nenhum professor lhes ensinou. Reinventam-se. Com amor, numa luta titânica, para não deixar morrer os ‘soldados’ que vieram da ‘guerra’. Aqui e ali, um dos ‘soldados’ desiste. Morre. E as lágrimas, de quem está a tratar deles, aumentam. Frustrados por verem sair mais um ‘combatente’ não a caminho de casa, mas de um armazém frigorífico porque já nem lugar há para armazenar, com dignidade, os corpos. Corpos que foram vítimas de uma guerra sem tréguas. Em que o inimigo, não desarma. Desumano, continua a atacar, sem mostrar o rosto. Entretanto, uma parte da população, comporta-se como se tratasse de um cenário virtual. Continuam a julgar que se trata de um filme de ficção científica. E não é. É a vida real. Em todos os hospitais. Sem exceção. Em todo o país.