DE TRONCO NU

16-09-2022 | 12:26 | | |

DE TRONCO NU

Escrito por O Gaiense

Nos últimos dias, o Miguel (nome fictício) tinha andado agitado com a possibilidade de ir ver o seu clube jogar. Ele é do Benfica e o Miguel vive em Famalicão onde o clube lisboeta jogava. Portou-se bem durante toda a semana porque o pai lhe prometera que o iria levar a ver os craques que ele coleciona religiosamente na sua caderneta de cromos.

Naquele dia, acordou cedo. Melhor: quase não dormiu, agitado com o aproximar da concretização da promessa do pai. De noite, os seus sonhos andaram todos à volta do Rafa, do António Silva, do Gonçalo Ramos, etc.

O almoço foi rápido. Quase nem degustou a comida que a mãe lhe preparara. Estava na hora de ir para o campo. Vestiu-se a rigor: uma camisola vermelha com o emblema do Benfica, o seu clube.

Chega ao recinto de jogo e um segurança, interpretando (mal) o que lhe haviam dito, impediu-o de entrar naquela porta, para a qual tinha bilhete, com a camisola do seu clube vestida. O Miguel tem, apenas, dez anos. O Miguel não entendeu! “Então o meu pai tem bilhete para o jogo, durante toda a semana sonhei com a possibilidade de ver os meus craques e não posso entrar com a camisola do meu clube?”.

Depois de muita agitação, polícia incluída, o Miguel teve que entrar de corpo nu para assistir à partida. Não podia estar com a sua camisola. Uma parte do sonho que o tinha agitado quase toda a semana, estava ali, à frente dos seus olhos, a desmoronar-se. Terá olhado para aqueles homens todos e, certamente, terá ficado a pensar que os adultos têm muito pouco juízo.

É que, afinal, tratava-se de uma criança. E, por muitos regulamentos que os adultos queiram invocar (os polícias, os seguranças, o clube, etc), todos eles se esqueceram de uma regra que se deve sobrepor a todas as leis: a regra do bom-senso. Afinal, não se tratava de um punhado de adeptos pertencentes aos ‘No Name Boys’, mas sim, apenas, de uma criança de dez anos, que só queria ver os seus ídolos com quem tinha sonhado a noite toda e que, os adultos, com aquela decisão cretina,  tornaram num pesadelo.