A (des) confiança na vacina

Já o disse por várias vezes que gerir o processo COVID é, porventura, o caso mais complicado que se colocou alguma vez aos nossos políticos e, por esse motivo, tenho-me coibido de tecer críticas ao processo. Mas há limites.
A forma como a comunicação em torno das vacinas tem decorrido caminha para o surreal. Logo numa área tão sensível. Não está em causa a falta delas e, portanto, o facto de o processo de imunização dos portugueses estar a demorar tempo demasiado. Ai, a culpa, não é deles. Mas a comunicação, é.
Não podemos estar todos os dias a dizer que a vacina da AstraZeneca é boa até aos 65 anos, depois era boa para todos, e agora, já volta a não ser boa, pelos vistos para ninguém, embora se tenha percebido que, apesar de todos os seus problemas, a tenham tentado forçar a receber o que, muito sinceramente, acho miserável porque ninguém é carne para canhão. Os próprios professores, chamados a recebê-la, 3% deles recusou-a.
A senhora ministra, a DGS e a task force, entenderão, a ansiedade e, até, o sofrimento psicológico das pessoas que receberam essa vacina, quando a mesma é suspensa, alegadamente por causar problemas de saúde,  e, inclusivamente, levar à morte?
Não basta António Costa dizer que recebeu a primeira dose da AstraZeneca e que agora vai tomar a segunda. Tanto assim, que já se discute, até, que a segunda dose seja de outra marca. O problema é que a da Johnson & Johnson, das quais recebemos milhares esta semana, parece estar a levantar o mesmo tipo de problemas o que mina a confiança e, portanto, pode levar ao total descrédito no processo.
Mas o cúmulo da comunicação é dizer que os problemas que ela causa, ‘apenas’  atinge zero, qualquer coisa, dos inoculados. O problema é que esse qualquer coisa, acima de zero, pode ser um de nós ou da nossa família. E isso conta. Para cada um dos que a vai tomar. É que se a diferença for entre morrer da doença ou da cura, venha o diabo e escolha.