O confinamento e o atentado
O país voltou ao confinamento geral. Era previsível, tendo em conta os números assustadores que todos os dias nos são transmitidos e que nós, de uma forma geral, vulgarizamos.
Olhamos para os óbitos como um número. E não, são mesmo pessoas que morrem. Pessoas que conhecemos. Pessoas que, porventura, se cuidaram, mas que o vizinho do lado teimou em não respeitar as regras e por isso as infectaram. Muitos morreram por falta de civismo de alguns.
Daí que eu não esteja disponível para criticar, de forma fácil, o governo e as medidas que toma.
Algumas poderiam ser diferentes? Claro! Mas que venha aquele que atire a primeira pedra com a certeza de ter uma solução milagrosa.
Um escândalo sem precedentes pelo menos desde o 25 de abril de 74. Como é possível, num país dito democrático, integrante de pleno direito da União Europeia, jornalistas serem espiados, no exercício da sua profissão, pela polícia a mando do Ministério Público?
Que moral tem o país para criticar a Venezuela, a Correia do Norte e outros países a quem apelidamos de totalitários?
Por muito que procure, não consigo discernir adjectivos que possam qualificar este arrepiante atentado à liberdade de imprensa.
Já o escrevi: não fora a comunicação social e a grande maioria dos processos de corrupção nunca veria a luz do dia. Foram os media que investigaram muitos dos mega processos que estão em tribunal e que a justiça teima em não resolver, porque estão emaranhados nas teias que alguns tecem para não serem condenados pelos crimes que cometeram.
A liberdade de imprensa é a base da democracia. Não conheço nenhuma democracia no mundo sem imprensa livre. Este abuso de poder, é, pois, um atentado a essa liberdade, que deve ser fortemente condenado. Por todos. Sem tibiezas.