A vacina dos chico espertos
Escrevi há duas semanas sobre as artimanhas que os portugueses arranjaram para contornar as regras de confinamento impostas e que passaram, até, pelo aluguer de cães para justificar o passeio.
Agora, começou a campanha de vacinação. E, como é típico dos portugueses (felizmente uma minoria...), começou, igualmente, a campanha para ludibriar as normas impostas sobre as prioridades.
Uma task force estudou um plano de vacinação. Perderam horas, dias ou até semanas, juntando especialistas, a discutir a melhor forma de atender a quem mais precisa.
Nesse plano, porém, não contemplaram o ‘chico espertismo’ nacional. Se se alugam cães ao vizinho, para enganar os polícias, qual a dificuldade em enganar as listas para vacinar o pai, a mãe, a irmã, a esposa, a filha, a sogra, o padre, o senhor presidente, o amigo da pastelaria, a costureira, etc etc?
Há prioridades? Não há sequer vacinas suficientes para vacinar muitos médicos, enfermeiros, etc? Os ‘chico espertos’ estão ‘vacinados’ contra essa ‘moral’. Primeiro eu, depois eu, e só depois os outros. A moral é, aqui como em muitas outras situações, uma treta. É o salve-se quem puder, sem olhar a meios. Aldrabice pura. E até o coordenador da task force, Francisco Ramos, foi traído no próprio hospital que lidera e demitiu-se.
Podia, depois, parecer estranho a ‘lata’ com que muitos aparecem, em plena TV, a explicar o inexplicável. A maioria foi: cresceram vacinas e, portanto, optamos por quem estava mais à mão: o senhor presidente, a família, os amigos. Não, não foram os bombeiros que também estavam ali ao lado. Um deles, vejam lá, marido da médica de um lar, foi vacinado porque estava no carro estacionado em frente ao local da vacinação (!!!) que, aliás, tinha tanta certeza da moralidade do ato que negou, a pés juntos, nas televisões que tinha recebido a vacina!
É uma pena este comportamento. Mas o que mais importa é que o plano avance com mais celeridade. Em Gaia começou esta semana. Venham elas: as vacinas.