ESTES CAMAROTES JÁ NÃO SÃO PARA VIPS, AGORA ACOLHEM VÍTIMAS DA GUERRA NA UCRÂNIA

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11-03-2022 | 16:25 | | |

ESTES CAMAROTES JÁ NÃO SÃO PARA VIPS, AGORA ACOLHEM VÍTIMAS DA GUERRA NA UCRÂNIA

Escrito por Eugénio Queirós

“Saímos do país, mas o país não sai de nós”, disse Olga Postolenko, divorciada e mãe de dois filhos.

Um misto de emoções invade o coração de Olga, que confessa estar mais calma, em segurança, mas com o coração na Ucrânia, país que deixou para trás, juntamente com os pais e a avó.

Apesar de não terem sido atacados diretamente, os barulhos das explosões dos ataques em Irpin e do assalto ao aeroporto em Hostomel inquietavam-na. “Percebi que tinha pouco tempo para tomar uma decisão. Para fazer alguma coisa, tinha de ser naquele momento ou então já não conseguiria sair do país”, conta.

Ao quarto dia da guerra, Olga Postolenko saiu de Kiev, com os filhos, a cadela, os pais, a avó e duas gatas. Ao chegarem a Kalynivs'ke, após cerca de sete horas de viagem e de atravessarem vários postos militares, a avó ficou “cansada”. “Tem 80 e tal anos”, explica.

Pais e avó não avançaram. Olga, os filhos e a cadela rumaram à Roménia. Foi aí que começaram a ouvir “o barulho das explosões”.

Garante que "foram muito bem tratados" e que lhes deram comida e roupa, tendo inclusive acolhido muito bem o seu animal de estimação. Dias depois estavam num autocarro rumo a Leiria.

 

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Crianças dispõem no interior do estádio também de uma zona de recreio

 

Instalada no Centro de Acolhimento Temporário de Leiria, no Estádio Dr. Magalhães Pessoa, não pensa para já no futuro. “Só quero ter os bens de primeira necessidade”, desabafa.

Apesar de já conseguir dormir, quando acorda em frente ao verde do relvado, Olga confessa: “Está tudo bonitinho, mas começo a pensar na Ucrânia, como é que está agora e como é que o país vai aguentar com tanta coisa ao mesmo tempo. O mundo deveria estar todo como Portugal: tranquilo”.

Entrar no piso dos camarotes do Estádio Municipal de Leiria faz esquecer que estamos numa infraestrutura desportiva. À saída dos elevadores ouvem-se os risos e as brincadeiras das crianças. Há uma televisão a transmitir desenhos animados e um quadro a giz, onde portugueses filhos de ucranianos ajudam a integrar os novos amigos. O bar foi transformado em cozinha e o novo lar de quem deixou tudo para trás procura fazer esquecer o trauma, o medo e a angústia.

Elisabete Cruz, Agência Lusa

Foto: Paulo Cunha, Agência Lusa

 

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Um pouco por todo o país, como é o caso de Matosinhos (imagem), as câmaras municipais mobilizaram-se de forma a encontrar as melhores condições para quem foge da guerra. Em Gaia, a autarquia disponibilizou já a hospedaria do Parque Biológico.

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