
QUANDO A 'BISARMA' ATRAVESSAVA A PONTE MUITO DE MANSO
O caminho de ferro alcançou Vila Nova de Gaia em 7 de julho de 1864 e desde logo criou um...problema: como passar para a outra margem?
O primeiro percurso pensado era sinuoso e íngreme e implicava a descida da linha pela encosta de Quebrantões, até ao Areinho, onde passaria numa ponte de 506 metros e 23 de altura, seguindo depois para o patamar de Campanhã. Pensou-se também numa ponte na zona onde está o Palácio do Freixo, mais a montante. de 27 metros de altura, numa linha que seguia pelo vale de Rio Tinto até terminar junto ao Prado do Repouso. Este último traçado previa um túnel de 600 metros entre as Devesas e Quebrantões e esse túnel foi contruído. O túnel ainda está mas nunca por lá passou o comboio, sendo zona de armazenamento da Real Companhia Velha. A Câmara de Gaia tem nos seus planos aproveitar esse túnel para trânsito rodoviário. Mas a opção final acabou por ir parar às mãos de Gustavo Eiffel, que propôs a audaciosa solução de uma ponte de ferro de 61 metros de altura, à cota das Devesas, num percurso direto para Campanhã.
"O comboio passa sob a mais ampla artéria de Vila Nova de Gaia (a moderna avenida que liga a Ponte D.Luís ao Alto de Santo Ovídio), transpõe por um breve túnel (200 metros) o morro de Quebrantões e entra com acentuada brandura no seio de um pequeno bosque de eucaliptos. A velocidade desce para dez quilómetros horários, se tanto. Muito de manso, a enorme e metálica bisarma entra na prodigiosa e fina ponte de D.Maria Pia"
Assim descreve Sant'Ana Dionísio, no 'Guia de Portugal' dedicado ao Entre Douro e Minho, um momento que muitos gaienses ainda recordam quando, de comboio, atravessavam esta ponte inaugurada em 1877, nove anos antes da Ponte Luís I.