USO DA TECNOLOGIA PODE GERAR PROBLEMAS DE ADIÇÃO

Aumento de primeiras consultas e reavaliação de diagnósticos
25-05-2021 | 15:48 | |

USO DA TECNOLOGIA PODE GERAR PROBLEMAS DE ADIÇÃO

Escrito por Filipa Júlio

O impacto da pandemia nas crianças e jovens tem sido uma das principais preocupações de educadores e encarregados de Educação.
Segundo dados da Admninistração de Saúde, as consultas de psiquiatria na infância aumentaram 5,3 por cento entre março e dezembro de 2020 em relação a igual período de 2019, e os casos registados em urgência foram mais graves. É uma tendência que se comprova no Hospital de Gaia, onde, segundo a pedopsiquiatra Joana Jorge, houve, especialmente no segundo confinamento, “um aumento de pedidos de primeiras consultas, por um lado, e, por outro, mais necessidade de reavaliações de crianças e jovens” já seguidas anteriormente.
De acordo com a especialista, este aumento deve-se tanto a necessidades de avaliação da saúde mental das crianças, como a preocupações dos pais relativamsente ao impacto da falta de contacto social, nomeadamente com os pares. “Depende das características individuais da criança, do estado mental e da capacidade dos cuidadores em responder, das condições sócio económicas e da própria duração da pandemia”, considera Joana Jorge.
Mais crianças doentes e cuidadores em dificuldade
A consulta de pedopsiquiatria integra sempre a família – “pedra basilar na avaliação e intervenção” – permitindo um diagnóstico de ‘grupo’.
“Sentimos, na consulta, que muitas crianças adoeceram mais, mas também há cuidadores alarmados, cansados e desgastados, com imensas dificuldades de eles próprios lidarem com a pandemia e com a reação das crianças à mesma”, refletiu.
De acordo com a pedopsiquiatra, os sinais mais alarmantes surgiram especialmente ao longo da segunda vaga: “À medida que as expetactivas de que tudo passaria na primeira vaga se foram defraudando, e que as condições sócio económicas se começaram a deteriorar, o impacto tornou-se mais  evidente. Há mais descompensações psicopatológicas, mais sintomalogogia ansiosa, depressiva e alterações de sono”.
A tendência de inversão dos ciclos de vigília e sono, evidentes nos mais velhos, é, segundo Joana Jorge, preocupante: “A tecnologia de informação e comunicação é extremamente valiosa e foi a forma de conseguirmos manter os contactos à distância. Mas tem também um impacto social e biológico ao nível da saúde mental”. Os riscos são maiores na adolescência: “É uma etapa de grande avidez pelas tecnologias, mas também na qual é elevada a necessidade de contacto social e físico. Se não for suprida, traz consequências. Sobretudo nos jovens mais suscetíveis: com problemas de inibição ou dificuldade nos relacionamentos sociais”.
Evitar fazer do virtual um refúgio nefasto exige a criação de regras: “É preciso que os pais reforcem a importância de manter um bom ciclo de sono, de uma boa alimentação, da importância de sair à rua, de passar tempo ao ar livre. Porque pode, efetivamente, gerar dependência. Sobretudo nos jovens que tenham predisposição para problemas de adição, este uso prolongado no tempo e intenso das tecnologias, pode associar-se, mais tarde, a problemas de dependência”, frisou.