O sorriso de todos nós
Andava eu no meu giro de ardina a apregoar com voz sonante “Olha O Gaiense”, quando me apercebi de uma situação invulgar: um menino estava com o rosto e as mãos pregados no vidro da livraria, e o pai tentava convencê-lo a continuar caminho, mas sem qualquer sucesso, pois o miúdo não arredava pé. Pensei que era uma simples birra de criança, mas quando ouvi o garoto a falar de uma forma estranha não resisti a parar para observar mais de perto. Então, o pai explicou-me que o menino – o Leonardo - era autista, tinha dificuldade em comunicar e raramente falava; além disso tinha um especial fascínio por livros, mas tinham saído de casa à pressa e ele tinha esquecido a carteira, pelo que não tinha dinheiro para lhe comprar nem sequer um caderno. Então peguei num suplemento infantil do jornal e acenei com ele para o rapazinho. Imediatamente, o Leonardo olhou para mim e dirigiu-me um grande sorriso; agarrou o jornal e ficou deliciado a ver os desenhos coloridos. O pai sorriu e agradeceu-me a dádiva, e eu retribuí o sorriso, pensando com os meus botões que todos somos diferentes uns dos outros, cada um à sua maneira, mas todos sorrimos quando estamos felizes!