“ CLUBES SEM CINCO EUROS PARA PAGAR A LUZ"
Natural de Mirandela, José Neves, 65 anos, completa um ano de presidência da Associação de Futebol do Porto, a maior do país, no final deste mês de maio.
Na associação desde 1987/88, o administrador bancário do Santander Assetmanagement concorreu sozinho, depois de Lourenço Pinto ter decidido sair, para integrar a lista de Pinto da Costa à presidência do FC Porto, como presidente da mesa da Assembleia Geral. Em entrevista a O Gaiense, José Neves abordou os projetos que tem em mãos para o seu mandato, que termina em 2024, falando também das adaptações que a AF Porto teve que fazer para lidar com a pandemia.
Está prestes a cumprir um ano de presidência na AF Porto. Que balanço faz?
Faço um balanço desafiante. Foi um ano em que foi preciso por à prova os conhecimentos adquiridos, a todos os níveis, pois foi muito difícil. Ninguém estava preparado para uma situação destas, mas o balanço é positivo, dentro daquilo que foi um ano atípico, uma época atípica, que permitiu conhecer melhor os clubes, ter proximidade e também permitiu ir de encontro ao que eram as necessidades dos clubes, numa época perfeitamente anormal, de guerra, contra um vírus sem rasto e sem rosto.
Quando se candidatou tinha alguns projetos, como a proximidade com os clubes e a Academia da Associação. Fale-nos um pouco sobre isto.
A AF Porto tem uma necessidade de ter a sua própria casa. Temos 900 árbitros que não podem, ou não devem, andar de casa às costas para treinar. Têm que ter um espaço que lhes dê todas as condições de preparação. As seleções da AF Porto, seja de futebol ou futsal, não têm espaço para treinar e têm que andar de casa às costas também. O projeto da Academia mantém-se em pé, mas não é para já porque a cidade do Porto, onde gostávamos que nascesse, não tem terrenos disponíveis. Já fizemos algumas consultas junto dos presidentes de Câmara da área metropolitana do Porto, para ver se é possível encontrar terrenos disponíveis para a construção da academia. Não há um terreno identificado, mas esperamos que, a curto prazo, possamos encontrar um. É um projeto que está em cima da mesa.
A pandemia veio alterar toda a orgânica de funcionamento da associação. Como lidou com isso?
A AF Porto tem uma média de 36 mil atletas inscritos e 20% de inscrições na Federação Portuguesa de Futebol. Na época em que estamos, a AF Porto tem cerca de 16.500 mil atletas inscritos, e só foi possível porque, como se sabe, criámos provas, autorizámos que a formação se inscrevesse sem pagamento, apenas com pagamento de seguro. Replicámos agora o tema, ou seja, pôde haver inscrições da formação só com pagamento de seguro e dissemos mais ainda: todos aqueles que já pagaram, vamos fazer um crédito na sua conta para a próxima época. E fizemos isto para que os jovens não desaparecessem da cena desportiva. Mas houve outra questão. Os seniores de primeiro ano não estavam a jogar, estavam parados. E que fez a AF Porto? Criou provas extras para que esses jovens seniores pudessem jogar, mas pararam logo a seguir. Isso permitiu atingir os 16.500 atletas inscritos e, esperamos nós, que com estas medidas que tomamos agora possamos conseguir trazer mais 10 mil atletas, para atingir um número simpático de regresso das camadas jovens.
A quebra de inscrições foi muito grande?
O importante é que não perdemos nem clubes, nem perdemos atletas seniores. O que nós não conseguimos foi inscrever mais camadas jovens, porque simplesmente não houve competição. Esperamos agora, com as medidas que tomámos, trazer novamente toda a capacidade que os clubes têm de mobilização. Por isso, oferecemos os testes gratuitos, para que a competição regresse com normalidade, regresse com condições de saúde e que os atletas sejam testados assim como os staffs das equipas, para que se iniciem as provas com toda a normalidade.
O custo que teriam com os testes foi uma das preocupações. De que outras formas a AF Porto tem ajudado os clubes?
A AF Porto fez a aquisição de 20 mil testes, que tiveram o custo de 90 mil euros. Para além das inscrições, que não são pagas, isto tem impacto nas contas da AF Porto, mas a associação tem condições para fazer isso. Fomos buscar subsídios para os clubes à FPF, um empréstimo que tem componente a fundo perdido e isso tudo minimizou o impacto. Só a AF Porto caminha, a passos largos, de forma direta ou indireta, para um apoio de cerca de 2 milhões de euros aos seus clubes. Falando desse apoio, a AF Porto, juntamente com a AF Lisboa e a AF Madeira, e com o apoio da FPF, teve conversas com os grupos parlamentares, chamando a atenção para a falta de apoios do Governo para o setor do Desporto, nomeadamente do futebol.