CARINHO DO NORTE NO CORAÇÃO DE SIMONE
"Não me façam chorar”, pediu Simone Oliveira no palco quando tomou conhecimento que iria ser agraciada com a Medalha de Mérito Municipal Classe Grau Ouro de Gaia. A emoção acabou por tomar a homenagem e Eduardo Vítor Rodrigues, presidente da câmara, salientou que a artista “é de uma enorme generosidade artística e humana”. Como tal, “Simone de Oliveira não poderia passar por Vila Nova de Gaia sem receber aquela que, para o Município, é uma das mais justas e bonitas homenagens”. Acrescentou que espera “voltar a estar ao lado de um dos nomes maiores da nossa história enquanto país”. Simone comoveu-se e beijou a medalha.
Histórias com humor
Conhecida como a ‘Cleópatra de Portugal’, a consagrada artista trouxe até ao Cine Teatro Eduardo Brazão, em Valadares, um leque de histórias que preencheram os seus 83 anos de vida. Com um humor muito característico, Simone referiu, entre gargalhadas, as peripécias que as suas próteses dos joelhos e no peito lhe trouxeram, tendo até sido revistada no aeroporto de Paris por suspeita de posse de arma. Ainda fez uma passagem pelos anos que viveu com Varela Silva e as amizades com a “senhora dona” Mariana Rey Colaço e Amália Rodrigues, com quem gostava de partilhar o momento do ‘cigarrinho e um café’. “Quando me virem a tomar chá, estou a dar as últimas”, disse.
Cultura de luto
As palmas foram pedidas por Simone para todos os profissionais do mundo artístico pelas dificuldades que passaram ao longo da pandemia. “Houve muitos colegas a passar fome. Apesar de não ter sido o meu caso, quero dizer à Ministra da Cultura para que acorde para a vida. O que está a ser feito vem tarde demais, pois deviam ter percebido as consequências logo no primeiro confinamento”, diz. ‘Sol de Inverno’ e ‘Desfolhada’ foram dois dos temas que marcaram os 63 anos de carreira de Simone de Oliveira. Na plateia, as máscaras não impediram que as vozes ‘cantarolassem’ com a artista a uma só voz. A finalizar, e em jeito de confissão, afirmou entre sorrisos: “Ainda hoje não sei como é que a ‘Desfolhada’ e a ‘Tourada’, de Fernando Tordo, passaram pelo ‘lápis azul’ da censura. Só mostra que os senhores não perceberam nada da letra”.