ENVOLVER A COMUNIDADE EM TORNO DA EDUCAÇÃO FOI TEMA DE SEMINÁRIO EM AVINTES
"O sistema educativo não pode nem deve estar alheado das questões sociais", referiu Marina Mendes, vereadora da Câmara Municipal de Gaia para a Educação, Ação Social, Habitação, Emprego e Coesão, na abertura do seminário dedicado ao tema “Impulsionar a Transformação Educativa”, realizado na manhã da passada quinta-feira, no Auditório do Parque Biológico de Gaia/ Avintes.
Neste momento de reflexão discutiu-se a importância de adotar formas de ensino inovadoras e adaptadas às necessidades de cada comunidade bem como o papel dos vários intervenientes do sistema na Educação, numa iniciativa da Abrigo Seguro – Associação de Solidariedade Social, no âmbito Ação/Medida 5 – Comunidade Participativa, do Projeto DLBC Urbano Gaia – Transformação Educativa.
Marina Mendes destacou os vários programas levados a cabo pelo município gaiense que visam a aproximação às comunidades. “Temos de aproximar os serviços da população. Uma autarquia conhece muito melhor o seu território e estará mais perto das soluções e da resolução dos problemas”, acredita a vereadora que destaca a “enorme responsabilidade” dos decisores políticos no que diz respeito ao abandono escolar, ao absentismo, e à educação inclusiva.
Dário Silva, vereador da Câmara Municipal de Gaia para a área das Finanças, Habitação e Arrendamento social, participou no primeiro painel do seminário e defendeu que "a escola não pode estar fechada sobre si mesma", após elencar vários problemas das escolas, como a massificação da escola, heterogeneidade dos alunos, abandono escolar, violência e segregação racial, além dos diferentes tipos de liderança nas direções escolares.
"Temos Associações de Pais (AP) que, na sua maioria, funcionam bem. O problema é a questão de representatividade porque, pese embora a escola tenha uma associação de pais, o número de pais que participam nas reuniões das AP e nas atividades das escolas é que é diminuto", clarificou o vereador acerca do envolvimento parental nas reuniões das AP e atividades nas escolas.
O vereador, com uma carreira de professor de 28 anos, acredita que a forma de combater este problema é fazendo um “esforço, balizando o papel de cada um, e incentivar a capacidade agregadora da comunidade em torno de um projeto”, exemplificando com a iniciativa do orçamento participativo na Junta de Freguesia de Oliveira do Douro e outras iniciativas escolares. “O programa Escolhas foi dos mais enriquecedores”, revelou.
Além de Dário Silva, o primeiro painel do seminário foi composto por Sandra Gonçalves, educadora de infância e professora de educação especial, e Berta Granja, professora universitária no Instituto de Serviço Social do Porto e investigadora do Centro Lusíada de Investigação em Serviço Social e Intervenção Social (CLISSIS).
Sandra Gonçalves debruçou-se sobre o tema das crianças e jovens com necessidades especiais e realçou a urgência de eliminar as barreiras impostas a todos os alunos para criar uma educação inclusiva, um conceito que diferenciou de igualdade ou de equidade. "Há uma vida além da escola. Estes jovens com necessidades educativas especiais têm de ter acesso a tudo na Sociedade. Temos de contornar os obstáculos para lhes dar todos os direitos. Cada aluno tem se tratado como único, independentemente das limitações", afirmou a espaços a oradora, que focou o discurso na personalização do currículo escolar dos alunos com necessidades especiais. "Já que demoram mais tempo a aprender alguma coisa, deveriam aprender o que faça sentido para eles e para os seus pais".
Marina Mendes lembrou que o processo de descentralização não incluí a parte pedagógica e descarta a hipótese de o poder local interferir nesta componente porque “o papel da descentralização não é de todo tornar os municípios em pequenos ministérios da Educação”. Em ‘oposição’, Dário Silva acredita que “os municípios vão ser capazes de resolver a fase logística e, numa segunda fase, ter um papel importante na reorganização do ano escolar, flexibilizações, da possibilidade de opinar sobre o currículo escolar dos alunos”. “Sou um convicto que o poder local gere bem, é inovador e é capaz de fazer bem junto das suas populações. Este é um caminho que tem de se percorrer”, afirmou.
Por seu turno, a apresentação de Berta Granja 'passou em revista' os vários pilares da estrutura educativa e centrou-se no papel das assistentes sociais, dentro e fora das escolas. Berta Granja enumerou algumas problemáticas atuais como a criminalização da pobreza e as questões negativas associadas ao uso das tecnologias, o que conduz à redução da linguagem e enfraquecimento dos laços sociais. Berta Granja focou-se no "facilitismo" e na "redução da atividade holística necessárias ao equilíbrio no crescimento e aprendizagem", o que gera "um individualismo negativo e a falta de referências identitárias". A intervenção da professora universitária abordou ainda o tema da "medicação excessiva dos alunos" - por exemplo, recorrendo à Ritalina.
Subjacente a todos os discursos esteve a importância e as vantagens do desenvolvimento das softs skills e da inteligência emocional. "Devemos ajudar as crianças com necessidades especiais a ser autónomas e independentes. É cansativo e desgastante, mas é positivo porque aprendemos muito com eles", frisou Sandra Gonçalves, também como exemplo de como ajudar os outros desenvolve a própria inteligência emocional.
O evento contou ainda com a participação de Luís Alves, Diretor da Agência Nacional do Programa Erasmus+ e João Teixeira Lopes, professor catedrático na Faculdade de Letras da universidade do Porto. Cipriano Castro, presidente da junta de freguesia de Avintes, abriu a sessão, cuja sessão de encerramento estava destinada a Vítor Dias, diretor regional do norte do Instituto Português do Desporto e da Juventude.