MOBILIDADE NAS CIDADES COMEÇA A MUDAR
São raros, mas existem. Há gaienses que trocam o carro pela bicicleta, integrando o pelotão da frente na tendência mundial de mudança de hábitos de mobilidade. Os benefícios para a saúde, a proteção do Ambiente e razões económicas são estímulos válidos para os cidadãos que decidem enfrentar os muitos obstáculos que ainda se colocam a este meio de locomoção.
A pandemia e o consequente confinamento fez disparar a compra de bicicletas e a procura de serviços de reparação das mesmas um pouco por todo o País. De tal modo que, em fevereiro deste ano, a MUBI (Associação pela Mobilidade Urbana em Bicicleta), a Federação Portuguesa de Ciclismo e a European Cyclists' Federation assinaram uma carta aberta dirigida aos governantes a pedir que se “priorizassem os investimentos na mobilidade em bicicleta no plano de recuperação e resiliência”, incentivando a compra comparticipada de bicicletas.
No início de maio (dia 6), o limite de incentivos para a compra de bicicletas elétricas disponibilizado pelo Fundo Ambiental para o ano inteiro já tinha sido atingido. Rui Mizusaki Lebreiro, residente em Canidelo e elemento ativo da MUBI-Porto, desloca-se uma vez por semana para o trabalho, nas Antas (Porto), em bicicleta (tradicional). “É um exercício difícil, pois há muito défice de percursos cicláveis e as vias de comunicação existentes são muito ocupadas por automóveis. Digamos que é agressivo circular em Gaia de bicicleta, fora do contexto de lazer, nas marginais”, começa por dizer a O Gaiense, para enumerar também “a falta de travessias (para o Porto), à cota alta”, adequadas. “No tabuleiro de baixo da Ponte Luís I, utilizamos as vias pedonais, em cima, temos de a levar à mão; no Infante, é agressivo devido à velocidade a que os carros circulam”, esclarece.
Defende que os desafios impostos pela morfologia do concelho podem ser facilmente superados com a utilização de uma bicicleta elétrica - “aconselhável quando se fala em mais do que cinco quilómetros” , mas implica uma revolução no reordenamentento da circulação e nas políticas de estacionamento. “”Muitas vezes, a solução passa por transformar vias de dois sentidos, em sentido único, com espaço para trajetos pedonais”.
No inquérito que colocamos online, aferimos que a maior parte dos respondentes (66,9%) considera que a sua freguesia não tem boas condições cicláveis e que a bicicleta é maioritariamente utilizada para fins recreativos e desportivos (75,3%). Responderam a este inquérito 320 pessoas de todas as freguesias de Vila Nova de Gaia.
Ana Poças, residente em Pedroso, habituou-se a usar a bicicleta no dia-a-dia nos 10 anos em que viveu na Holanda: “Quando voltei, quis continuar a fazê-lo cá. É completamente diferente, devido à falta de infraestruturas e da alta velocidade dos carros dentro das localidades, mas optando por ruas mais secundárias, é possível andar em segurança”.
A boa disposição que sente, ao andar de bicicleta, supera os sustos provocados pelas “razias dos carros” nas ultrapassagens”. A maioria dos respondentes (33,9%) ao inquérito promovido por O Gaiense alterna entre ciclovias e estradas.
Para Rui Lebreiro - e para a MUBI -, Portugal “está a perceber os desafios” da necessidade de mudança ao nível dos percursos de mobilidade, com Lisboa na liderança: “A capital tem revertido os espaços públicos para uma mobilidade mais suave e tem conseguido criar uma boa rede. Não estamos a falar de uma cidade plana, como Aveiro”.