PASSAGEM SUPERIOR CAUSA DISCÓRDIA
Considerada uma das mais emblemáticas de Portugal, a estação da Granja, em São Félix da Marinha, foi a primeira a ser construída junto à praia, em 1862. Por essa razão, a sua fachada foi escolhida para a colocação de um painel de azulejos onde são retratados os principais monumentos, na altura uma forma de promover o turismo nacional. Mesmo ao lado está a Avenida Sacadura Cabral, que, para além da sua envolvência arquitétonica e paisagística, foi também a primeira via pedonal registada no território português e o local escolhido, e retratado, por Eça de Queirós, Ramalho Ortigão e Sophia de Mello Breyner. Motivos que são apresentados pelo movimento ‘Praia da Granja, Cidadãos’, para contestar a passagem superior que está projetada para aquele local.
De túnel a ponte
Aumentar a segurança dos utilizadores, o encerramento de todas as passagens de nível existentes e construção de passagens desniveladas em todas as estações e apeadeiros foram algumas das razões que a REFER apresentou, em 2011, para a requalificação da Linha do Norte. Na altura, foi apresentado um projeto para a Estação da Granja onde esta ia ser contemplada com uma passagem inferior, ou seja um túnel, para a travessia pedonal. A obra, para além do parecer positivo por parte da Câmara de Gaia, também teve ‘boa nota’ da Comissão de Avaliação, onde está incluída a Agência Portuguesa de Ambiente (APA). Bastaram dez anos para que esse mesmo projeto fosse ‘colocado na prateleira’ e apresentado outro por parte das Infraestruturas de Portugal (IP), que é a entidade agora responsável pelas vias férreas. É aí que está base da discórdia, uma vez que a passagem inferior, que antes tinha sido aprovada, foi substituída por uma superior, ou seja, uma ponte.
Contestação e petição
Quando tomaram conhecimento desta alteração, os moradores da zona da Granja nem queriam acreditar. “É uma autêntica aberração”, afirmam. Este grupo de pessoas juntou-se e criou o movimento ‘Praia da Granja, Cidadãos’ e uma petição online, que num espaço de uma semana já tem cerca de 1000 adesões, para sensibilizar o presidente da Câmara, Eduardo Vítor Rodrigues, a travar a obra que está prevista. Acrescentam que, em termos de mobilidade, a solução apresentada “não vai resolver a questão porque, à semelhança do que acontece nas restantes estações, os elevadores não vão ter a manutenção necessária para estarem sempre disponíveis. Além disso, vão sujeitar as pessoas a subir e a descer mais de 40 degraus, o que para quem vem com bicicletas e tem dificuldades motoras é inconcebível. Vai ser uma forma de separar ainda mais a população da Granja”, referem. Outra questão que colocam é o impacto paisagístico. “Como é que é possível quererem colocar aqui uma ponte mais alta que a própria estação e na qual um dos pilares vai ficar no meio da Avenida Sacadura Cabral? Este edifício acabou de ser requalificado, fazendo jus à sua história. Em vez de terem orgulho, querem escondê-lo”, salientam. Enquanto que o IP não respondeu a O Gaiense até ao fecho da edição, Eduardo Vítor Rodrigues referiu que a passagem superior pedonal “com escadas e elevadores para o acesso ao cais de passageiros e de atravessamento urbano é a melhor solução encontrada em termos de segurança e salubridade, de acordo com o projeto original de 2011, que esteve por duas vezes em discussão pública. A legitimidade da obra não conflitua com a legitimidade da opinião de alguns moradores”. Já os moradores contradizem. “Bem vindos ao novo muro de Berlim!”. Ainda no âmbito da requalificação da linha do Norte, a junta de Arcozelo solicitou à IP a cedência dos azulejos históricos que estavam no apeadeiro da Aguda.