PONTE PÊNSIL: A PRIMEIRA PONTE PERMANENTE ENTRE O PORTO E GAIA

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29-03-2022 | 13:27 | | |

PONTE PÊNSIL: A PRIMEIRA PONTE PERMANENTE ENTRE O PORTO E GAIA

Escrito por Eugénio Queirós

Quando em 1369 o rei Dom Fernando procurou assegurar a colocação pronta do seu exército na margem norte do rio Douro, a fim de libertar Guimarães do cerco que o exército de Henrique II de Castela lhe fizera a 1 de Setembro daquele ano, apenas cuidou de instruir a cidade do Porto para, sem perda de tempo, armar uma ponte de barcas.

Cumprida a sua missão ocasional, foi a ponte desmontada. Outras pontes provisórias de barcas foram construídas em ocasiões de especial necessidade, mas só no início do século XVIII se encarou a existência de uma ponte de barcas com caráter permanente. Uma ponte que apenas seria desmontada em situações de aumento maior da velocidade das águas do rio Douro. Uma ponte que respondia ao aumento de população residente em ambas as margens e assegurava as condições mínimas para o incremento que se registava na atividade comercial e industrial em toda a região. Deve-se tal projeto ao Corregedor Francisco de Almeida e Mendonça, que planeia também uma grande ponte de pedra cujo projeto chega a ser encomendado ao Engenheiro Cruz Amarante.

Com a morte do Corregedor, em 1804, a solução ambiciosa de uma ponte de pedra é abandonada mas, a 15 de Agosto de 1806, é aberta ao público a primeira ponte de barcas de caráter estável e permanente (fotografia 4). Fotografia 4. Ponte de barcas (gravura) Uma ponte de 20 barcas que se abria para dar passagem aos barcos que navegavam no rio Douro e que se desmontava por ocasião das maiores cheias. Uma ponte que a 29 de Março de 1809 vê precipitar nas águas mais de 3.000 pessoas fugindo das tropas francesas comandadas pelo Marechal Soult.

Outras pontes de barcas foram construídas, cada vez mais aperfeiçoadas, mas o Porto crescia em importância comercial e industrial e foi retomada a vontade de construir uma ponte verdadeiramente permanente e capaz de dar vazão ao tráfego cada vez maior entre as duas margens do rio. Um sonho e uma vontade que se tornou possível graças aos desenvolvimentos ocorridos na tecnologia do ferro e na ciência dos materiais.

Assim, em 1837 foi tomada a decisão de construção de uma ponte segundo o sistema de suspensão em ferro, que foi aberta ao público a 17 de Fevereiro de 1843. Uma inauguração antecipada, com alguns trabalhos nos acessos ainda por concluir, pois uma cheia imprevista se avizinhava. Na edição desse dia do “Periódico dos Pobres” lia-se: “O rio Douro promete grande cheia, hoje pouco deu por maré: a Ponte Pênsil já se acha aberta ao trânsito público”.

 

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A ponte pênsil foi projetada pelos engenheiros Mellet e Bigot e esteve ao serviço durante 44 anos. Esta ponte, de bela construção e de linhas elegantes, elevava-se 10 metros acima do nível médio das águas no rio, tinha um vão de 170 metros e apresentava uma largura de 6 metros.

A sua localização foi fortemente influenciada pelo sentir das populações interessadas, ao recusaram a solução proposta pela empresa construtora de colocar a ponte no prolongamento da rua de S. João, com uma coluna, ou arco de triunfo, no meio do rio, para conveniente apoio da ponte. A localização da ponte mais a montante revelou-se, de fato, mais vantajosa, dado que desimpedia toda a bacia portuária, facilitando o comércio fluvial, para além de salvaguardar os acesos à ponte de eventuais inundações durante as cheias.

Entrou-se na segunda metade do século XIX, o comércio do Vinho do Porto havia chamado para o Porto e para Gaia uma comunidade britânica com grande capacidade empresarial, a região tornara-se o grande pólo industrial do ocidente peninsular, o porto comercial no rio Douro apresentava uma atividade crescente de transporte fluvial e marítimo, as urbes do Porto e de Gaia espraiavam-se nos planaltos à cota alta, e iam chegar quer o caminho-de-ferro vindo de Lisboa quer os veículos motorizados. Mas as hesitações e polemicas sobre a travessia do rio Douro pelo caminho-de-ferro estão bem patentes na execução e posterior abandono do túnel sob a Serra do Pilar, que foi depois ocupado pelas pipas da Real Companhia Vinícola.

Assim, só a 4 de Novembro de 1877 se assiste, em ambiente de grande festa popular, à passagem inaugural de um trem transportando os Reis de Portugal sobre a magnífica ponte projetada pelos Engenheiros Gustave Eiffel e Théophile Seyrig. Uma ponte metálica que coloca a linha do trem à cota de 60 metros sobre as águas do rio Douro. Com um tabuleiro que se apoia sobre um arco bi-articulado com 160 metros de vão e 42,6 metros de flecha.

O Porto e Gaia atravessam então um período de crescimento que se manifesta também nas vertentes cultural e social. Assim, apenas quatro anos depois de terminada a construção da ponte Maria Pia, não surpreende que se inicie a construção da não menos magnífica ponte que vai receber o nome do rei Luiz I. Uma ponte concebida pelo engenheiro Théophile Seyrig com base no projeto elaborado pelo engenheiro João Joaquim Matoso. Uma ponte com dois tabuleiros metálicos, o superior com cerca de 390 metros de comprimento e à cota de 62 metros, e o inferior com 174 metros de comprimento e à cota de 10 metros. Ambos suportados por um arco metálico, também bi-articulado, com 172 metros de vão e uma flecha de 44 metros no seu intradorso (fotografia 7). Construída ao lado da ponte pênsil e inaugurada no dia 31 de Outubro de 1886, já assistiu ao desmantelamento daquela primeira ponte, no final de 1887.

"As Pontes do Porto" – António ADÃO DA FONSECA

Foto ARMANDO FRADIQUE

 

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