
RAIO-X À DEMISSÃO EM BLOCO DA EQUIPA DE RADIOLOGIA DE INTERVENÇÃO DA ULS GAIA/ESPINHO
O Diretor do Serviço de Imagiologia e coordenador da Unidade de Radiologia de Intervenção (URI) da ULS Gaia/Espinho, Pedro Sousa, apresentou a demissão a 1 de maio, com a restante equipa da URI (sete elementos) a seguir-lhe as pisadas. A posição do hospital sobre o caso dá conta que "estão a ser feitas diligências para garantir o normal funcionamento do serviço".
Na génese da demissão em bloco estão vários pontos de divergência com a nova administração, levando a que "o tão ambicioso e exigente projeto que estava em curso não tenha condições para continuar. Alertei o novo Conselho de Administração (CA) para aspetos que careciam de resolução urgente, reuni uma única vez, achei que tinha corrido bem, mas no fundo o discurso não foi coerente. Seguiram-se 60 dias de silêncio. A nota de encomenda de dois ecógrafos foi aprovada no dia seguinte à demissão", exemplificou Pedro Sousa, que lamenta ainda a ausência de resposta quanto ao pedido de contratação de novos elementos.
À data de criação da unidade de resposta 24h por dia, em 2021, apenas o Centro Hospitalar Universitário de Coimbra oferecia essa resposta 24h/24h, no país. "O objetivo era internalizar a atividade no hospital, que recorria a prestadores externos, e introduzir dento da ULS ganhos financeiros e de qualidade".
A URI funciona em Espinho, o que o novo CA terá questionado. "Os utentes são sobretudo de Espinho, mas não em exclusivo porque também funcionava como buffer às necessidades do hospital de Gaia. Era uma resposta mais local", defende.
A "gota de água" para a demissão foi o processo de nomeação de júri para contratação de recém-especialistas de Radiologia e Neurorradiologia, com Pedro Sousa a reclamar essa competência e a considerar que "houve falta de lealdade institucional". Queixa-se que, contrariando procedimentos de anos anteriores, o CA “sem me dizer, pediu a outra pessoa para nomear o júri para Neurorradiologia e ignorou as minhas propostas". Não obstante, clarifica que "o novo CA tem uma visão diferente e ninguém questiona a legitimidade", mas reforça que "a falta de respeito é uma linha vermelha".
À demissão de Pedro Sousa soma-se um processo disciplinar que lhe foi instaurado pela "forma como comuniquei à comunidade", visto ter publicado a carta de demissão e revelado dados do funcionamento do serviço na rede Linkedin. "Foi, ironicamente, interpretado pelo CA como falta de lealdade institucional. O CA esteve 60 dias em silêncio, mas em 19 dias conseguiu fazer um processo disciplinar de 19 páginas, o que revela as prioridades", comenta. Os elementos demissionários têm, por lei, de cumprir 60 dias de trabalho. A 27 de maio, Pedro Sousa ativou a rescisão efetiva e irá ressarcir a ULS Gaia/Espinho pela saída antecipada.
Recorde-se que Luís Matos assumiu a presidência do CA no final de fevereiro, substituindo Rui Guimarães, que terminou mandato em dezembro. O início do ano ficou marcado por um abaixo-assinado subscrito por mais de 90% dos diretores de serviço da ULS Gaia/Espinho que foi enviado ao Presidente da República e ao Governo, com o objetivo de evitar a substituição do conselho de administração, liderado por Rui Guimarães, tal como O Gaiense noticiou, incluindo chamando o tema à capa da edição nº1187. Pedro Sousa foi um dos subscritores do abaixo-assinado.
A fotografia retrata a equipa de Radiologia de Intervenção demissionária.