"A ÁGUAS DE GAIA É UMA FILHA MUITO IMPORTANTE DA CÂMARA MUNICIPAL"

manuela garrido
21-01-2022 | 12:21 | | |

"A ÁGUAS DE GAIA É UMA FILHA MUITO IMPORTANTE DA CÂMARA MUNICIPAL"

Escrito por Eugénio Queirós

Manuela Garrido deixou a presidência da empresa municipal Águas de Gaia, cargo que ocupava desde 2018, e abriu as portas do seu gabinete de diretora municipal da administração e finanças, nos Paços do Concelho, com janelas para a Avenida da República, não apenas para falar da missão que cumpriu na empresa municipal.

Terminado o seu mandato na Águas de Gaia, que balanço pode fazer?

O balanço é muito positivo, foi um desafio que me foi proposto pelo senhor presidente da Câmara, acumulando com as minhas funções da Câmara. Não era aquilo que gostava de ter mas penso que conseguimos fazer um excelente trabalho. Conseguimos o que era mais importante para o presidente da Câmara quando me nomeou para lá, que era tentarmos uma solução balanceada entre a Câmara e as Águas no sentido da sustentabilidade financeira. Felizmente, as Águas, a este nível, estão bem, tivemos, é verdade, de fazer alguns acertos, nomeadamente no ajustamento da política de tarifários, aliviando a fatura dos municípios mas alguém teve que pagar essa fatura e quem pagou foi a Câmara. Tivemos uma taxa ambiental fixa de 3 euros em substituição da que estava acumulada à fatura da água como taxa de resíduos sólidos e teve de ser a Câmara a pagar.

Como foi estar com um pé nas Águas e outro na Câmara?

Não é fácil de gerir. Este balancear sustentado e com bom senso foi conseguido, porém. A empresa está bem, conseguimos grandes feitos em termos de projeção internacional e estivemos muito bem na gestão da pandemia. Estivemos sempre, sempre ao lado dos munícipes e ao lado da Câmara, desde o início da pandemia.  Claro que tivemos casos positivos mas conseguimos gerir esta fase e demos prova aos munícipes de que estivemos sempre com eles. Para além disso, conseguimos renovar o selo da entidade reguladora.

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O que representa esse selo da ERSAR?

Entre os operadores públicos de água, são eleitos aqueles que conseguem fornecer água 100 por cento pura para consumo humano. E a Águas de Gaia tem vindo sucessivamente a renovar este selo de qualidade. Para além disto, fomos escolhidos para fazer parte da direção executiva da Aqua Publica, o que é um prestígio. O dr. Miguel Lemos fez um excelente trabalho. Gostava de reforçar que a administração da Águas de Gaia, que incluiu também o Amadeu Campos, foi uma equipa que funcionou. Pensávamos todos nos grandes desafios e quer na gestão da crise, quer na gestão estratégica, não me recordo de qualquer deliberação que não tivesse sido tomada por unanimidade. Foi sempre uma gestão única e com a mesma visão. A gestão das praias em tempo de pandemia também não terá sido fácil... Foi, de facto, uma fase difícil. Em 2020 tivemos de tomar algumas iniciativas, sem a certeza de que seriam suficientes. Quisemos garantir a boa prestação de serviços mas estávamos receosos. Tivemos no terreno assistentes de praia que nos ajudaram a fazer um rastreio da maior ou menor ocupação das praias, entre outras medidas. Conseguimos chegar ao final dessa época balnear com resultados muito bons. Entretanto, foram também feitos investimentos de vulto na rede de distribuição de água, certo? Só manter o que temos já é um investimento pesado. O município é grande, toda a rede de água tem de ser mantida com custos elevadíssimos. Tivemos um reforço também da política de divulgação e estímulo ao uso da água da torneira. Quanto ao investimento no reservatório de Gulpilhares, foi brutal, e temos perspetiva de mais investimento no sentido de continuar estas políticas. Gostava de destacar também o prémio que conseguimos em San Diego e que distinguiu a nova tecnologia que introduzimos. Avançámos também um projeto pioneiro ao nível da captação de imagens por satélite para apurar perdas de águas e de água não faturada.

É muito dinheiro que se perde com água perdida ou não faturada?

É muito dinheiro. Este projeto--piloto lança alertas on time, o que ajuda muito pois podemos atuar na hora. Fomos a primeira empresa em Portugal a utilizar esta tecnologia. É um projeto no qual temos grandes expectativas. Outro projeto grandioso que temos é o do novo edifício da Águas de Gaia, no local do atual, um edifício que é temporário há mais de 20 anos. O novo edifício permitirá também requalificar toda a área envolvente e gerar uma nova centralidade na cidade, tornando-a um polo importante perto do centro cívico. O edifício representa um investimento brutal, cujo projeto está preparado. O concurso público é que correu menos bem pois ficou deserto. Fruto da crise em que estamos, os custos de construção subiram bastante e o concurso será repetido. Teremos de fazer ajustamentos. Temos um grande apoio de financiamento através do programa JESSICA e também é por isso que avançamos. Estamos a falar de um projeto superior a onze milhões de euros e agora não sabemos o que será. Se calhar teremos de reduzir em algumas coisas projetadas para ajustar ao preço base.

Alguns municípios optaram por concessionar o serviço de águas e saneamento a privados, mas Vila Nova de Gaia mantém a sua empresa municipal. Tem valido a pena esta aposta?

A Águas de Gaia tornou-se empresa municipal em 1999 e o balanço é positivo. Os serviços municipalizados têm sempre o foco onde estão integrados, neste caso na Câmara Municipal. Os serviços municipalizados eram um braço da Câmara mas já tinham a sua própria administração. Esta visão empresarial do setor das águas para mim faz sentido, embora o foco seja sempre o serviço público mas com este modelo temos outros mecanismos de gestão. A Águas de Gaia é uma filha muito importante da Câmara Municipal. Desenvolvi a minha tese de mestrado no âmbito da administração pública e uma das questões que avaliei era o paradigma de importarmos para a administração pública a avaliação do desempenho que se faz no privado, onde se premeia quem esteve bem. Na Águas de Gaia temos este nicho, porque sendo uma empresa comparticipada a 100 por cento pelo município podemos fazer esta avaliação. Ainda há pouco tempo fizemos, através de uma consultora, um acordo de empresa. Repare, só há um ano é que a Águas de Gaia tem a sua comissão de trabalhadores. Nas Águas, podemos ter, de facto, uma gestão mais flexível na certeza de que a grande mais-valia da empresa são os seus funcionários. Vemos que as pessoas vestem a camisola, não são funcionários, são Águas de Gaia, como ficou demonstrado durante a pandemia. Por isso, este acordo de empresa é um reconhecimento de que este trabalho correu bem e de que, este se calhar, é o caminho correto, sempre com a empresa municipal a uma voz só com o município. Só assim foi possível concluir este trabalho com satisfação e de forma positiva. E agora posso focar-me apenas no nosso município e no que vem aí... ■

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