ESTÍMULO À CURIOSIDADE POLÍTICA DOS JOVENS
Explicar o funcionamento da democracia e incentivar o interesse dos jovens pela política foram o mote das três sessões de 'Democracia nas Escolas' realizadas na Escola Secundária Diogo de Macedo, a 22, 23 e 29 de fevereiro, pela associação de jovens voluntários 'Os 230'.
O nome do projeto de âmbito nacional, para alunos do primeiro ciclo ao ensino secundário, é inspirado no número de deputados na Assembleia da República. A iniciativa de informar os jovens em ambiente escolar, por intermédio de jovens voluntários, já chegou "a mais de três mil alunos", como indica Mariana Nóbrega, vice-coordenadora Nacional da Democracia nas Escolas - Associação 'Os 230'. "Os jovens querem aprender e saber mais. Chateamo-nos muito quando ouvimos na televisão que os jovens não querem saber de política, é totalmente errado. Queremos ouvir os jovens e informá-los para que tenham uma opinião isenta", destaca Mariana Nóbrega, estudante de direito no ensino superior que já é mentora nesta iniciativa "super apartidária. Só temos voluntários e mentores que não tenham filiação partidária", precisou.
Ora, na última quinta-feira, os alunos do 9ºG ficaram a conhecer as competências dos órgãos de soberania (Presidente da República, Assembleia da República, Governo e Tribunais), e o processo das eleições legislativas. Sempre curiosos e atentos, os alunos foram a guiados, entre outros, pelos conceitos de 'Esquerda' e 'Direita', Método d'Hondt - utilizado nas eleições legislativas -, composição e organização da Assembleia da República, e formas de participação na sociedade além do ato de votar.
Além de Mariana Nóbrega, também os estudantes de direito Afonso Vicente e Carolina Nogueira ajudaram a construir uma apresentação dinâmica, intercalada com a auscultação dos jovens. Já depois de explicar a organização da justiça e das taxas de abstenção em Portugal, Afonso Vicente incitou os alunos a serem "caixas perguntadoras e a formarem as próprias opiniões, baseadas em informação".
"Orgulhosa por contribuir para a aprendizagem" dos alunos da Escola Secundária Diogo de Macedo estava Carolina Nogueira, que estudou ali antes de ingressar no ensino superior. Ao longo das sessões que tem conduzido, entre ser questionada sobre como são feitas as leis ou o poder de cada deputado, por exemplo, Carolina Nogueira vai-se surpreendendo com "as perguntas que os mais novos colocam, muitas vezes que nem estamos à espera e que mostra que estão interessados pela política".
Mas foi Mariana Nóbrega quem detalhou ao jornal O Gaiense uma das situações que já experienciou de forma "surpreendente. Fui a um colégio dar uma sessão a uma turma de quinto ano e estávamos a falar dos poderes do Presidente da República quando eu disse que o Presidente tinha um poder muito importante, especial. E uma menina disse que havia um poder ainda mais especial do que o do Presidente, o poder do povo. Ficámos a olhar, sem saber o que responder, porque realmente tinha razão", conta.
Por outro lado, Mariana Nóbrega revela que ainda existem muitos preconceitos em relação à política, que deseja mitigar: "Há muita perceção por parte dos jovens que o Governo não faz anda e que os deputados são todos corruptos e não querem saber do nosso país. A nossa missão é desconstruir este preconceito que existe da parte dos jovens. Reparamos que esse desinteresse acontece devido aos políticos estarem distantes dos jovens, não sabem quem eles são, o que acontece. Vimos aqui explicar o que fazem na assembleia e dar caras. O objetivo é humanizar os deputados de forma a que este fosso que existe entre os jovens e a camada política se extinga", soluciona.
Este resumo da vice-coordenadora nacional encaixa na ideia que conduziu à génese de 'Os 230', uma iniciativa de Francisco Coordeiro, estudante de Direito Internacional na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (FDUL). Em 2019, aos 23 anos de idade decidiu criar um projeto de responsabilidade cívica para contribuir para o reforço da Democracia. Começou por entrevistar os 230 deputados à Assembleia da República, para que os portugueses conhecessem melhor os seus representantes.
Além da 'Democracia nas escolas' a associação também dinamiza apresentações "sobre mecanismos de participação ativa na sociedade, que é para os jovens que ainda não podem votar saberem que há outras formas de contribuir para a comunidade onde estão inseridos, e outra sobre eleições europeias", especifica Mariana Nóbrega.
Para breve, na mesma escola estão previstas sessões dedicadas às eleições europeias, visto que a população será chamada às urnas a 9 de junho de 2024.
