
EXPOSIÇÃO DE ALBUQUERQUE MENDES NO MUSEU DA VILA VELHA
Entre 4 de Julho e 26 de Setembro, o Museu da Vila Velha, em Vila Real, acolhe a exposição “Albuquerque Mendes: Corpo de Performance”, a primeira mostra retropectiva sobre performance arte em Portugal, que marca uma extensa investigação sobre 50 anos de trabalho do artista Albuquerque Mendes.
Cinco décadas desenham-se em cinco dezenas de performances do artista, com documentação audiovisual e literária que vai desde cartazes a catálogos de exposições, recortes de notícias de jornais, registos áudio, correspondência, objetos diretamente associados, fotografias, filmes e vídeos compilados por fotojornalistas, críticos de arte, galeristas, familiares e amigos.
Com investigação, produção e curadoria de Paula Pinto, a exposição reúne inúmeros materiais audiovisuais de diferentes espólios inéditos que materializam um inventário da performance como meio de expressão artística daquele que foi um precursor daquela expressão da arte em Portugal nos anos 70: Albuquerque Mendes cruza a pintura com a colagem, o teatro e a encenação, encurtando a distância entre artista e observador e expandindo as acções da arte para o espaço público, de forma a criar uma intrusão natural em meios sociais arredados da cultura artística.
Enquanto aluno do Círculo de Artes Plásticas de Coimbra desenvolveu o processo de trabalho e juntou-lhe a experiência das participações em festivais nacionais e internacionais de performance, desvendando uma manifestação social em que a democracia conquistada em 1974 é protagonista em diferentes formas de abordagem, que agora se reúnem no primeiro olhar retrospetivo que expõe uma história, um percurso e uma afirmação de ser.
“As performances de Albuquerque Mendes evidenciam a integração simbólica das práticas sociais e celebram a criação colectiva ou o sentido de comunidade que as acções ritualistas proporcionam. No centro das suas performances está a memória dos rituais pagãos e religiosos ainda celebrados em algumas aldeias e cidades portuguesas, como Trancoso, no distrito da Guarda, onde nasceu, mas também o sentido da liberdade social, da festa e da revolução, característicos do espírito de mudança que esteve no centro das transformações artísticas dos anos setenta. Albuquerque Mendes transporta consigo a memória de comportamentos associados à celebração de rituais religiosos, das manifestações próprias da revolução de abril de 1974, da coreografia de uma dança, de um ritual de sedução, do cerimonial de uma confissão, da passagem de um legado ou do simbolismo libertário associado à gestualidade do artista... múltiplas acções que nos transportam para o conturbado domínio simbólico da negociação entre os afetos e as normas socioculturais”, salienta Paula Pinto.