
PERSISTÊNCIA DEVOLVE VIDA À MARCA VALADARES
Bastaram apenas 140 mil escudos e a audácia de seis homens para, a 25 de abril de 1921, fazer nascer a Cerâmica de Valadares. Uma empresa que, devido à sua capacidade de inovar, conseguiu tornar-se uma das principais marcas nesta área tanto a nível nacional, como internacional. Depois de um período menos favorável, entre 2012 e 2015, a ARCH Valadares, a nova designação, está de volta para devolver a dignidade que marcou estes 100 anos de existência. Quem também está de volta é o som da sirene que regista as horas de entrada e saída dos trabalhadores e, que de uma certa forma, é o relógio da população local.
Saber crescer
A passagem para a loiça decorada ou de faiança, nos anos 30 e 40, foi o ponto de partida para o crescimento da Cerâmica de Valadares. Foi a partir desse momento que a marca começou a ter uma presença mais acentuada no mercado e a apostar em funcionários com uma formação específica. Na altura, foi o requinte e a variedade que apresentava nos seus produtos que a distinguia das outras empresas que existiam, levando-a mesmo a aumentar consideravelmente as suas instalações. Henriques Barros, vice presidente da ARCH, salienta que a Cerâmica de Valadares pautou-se sempre por “seguir um caminho que era a garantia para o futuro” e isso verificou-se entre as décadas de 80 e 90, quando a aposta recaiu na loiça sanitária e acessórios cerâmicos para os quartos de banho. É a partir daí que sua capacidade de exportação atinge números notáveis, estando presente em mais de 70 países.
A dimensão da empresa era tão considerável que era uma das poucas, a nível nacional, com um terminal e vagões próprios com acesso direto da estação de comboios para o interior da fábrica. O esforço de décadas veio a ser reconhecido pelo júri da Tektónica 2008, uma feira que valoriza a inovação em materiais de construção. O período negro viria a acontecer em 2012, com o seu encerramento. O facto de a ‘Valadares’ se encontrar com os melhores números em termos de produção e encomendas foi um dos motivos para a envolver na resolução dos passivos adquiridos por outras empresas do mesmo grupo. “A administração não tomou as medidas que deveria ter tomado para salvaguardar o componente principal que é todo este património”, refere Henriques Barros, na altura diretor de produção da Cerâmica de Valadares. A experiência e a dedicação à empresa de Henrique e João Rocha Ferreira, durante anos, foi tida em consideração pelo responsável do estado de insolvência, Castro Lima, que os desafiou a ‘pegar no leme’ da empresa e fazê-la renascer. É assim que nasce oficialmente, em 2014, a ARCH Valadares, cujas siglas significam ‘Advanced Research Ceramic Heritage’.
Com metade das instalações da Cerâmica de Valadares ocupadas, é, hoje, responsável por empregar 130 pessoas, dos quais 30 são provenientes dos protocolos de formação com o Instituto de Formação e Emprego Profissional(IEFP).
A exportar para mais de 40 países, grande parte na Ásia, é Portugal que ocupa 60% das vendas das loiças sanitárias e seus complementos. “O turismo veio mudar o conceito da hotelaria no nosso país e hoje compete com o mercado internacional”, salienta Henrique Bar-ros. Com uma faturação de 5,8 milhões de euros em 2020, o objetivo deste ano é alcançar a meta dos sete milhões de euros.
Revolução local
Se a inovação foi relevante na história desta empresa centenária, também as pessoas tiveram uma boa cota parte. A ‘cultura’ de trabalho da Cerâmica de Valadares era fruto da paixão com que os trabalhadores se entregavam e era daí que surgiam muitas das ideias para os chefes. Dali surgiram casamentos e nasceram várias gerações de trabalhadores, sempre com a alma de sacríficio pela ‘Valadares’. Aliás, esta empresa teve um papel fundamental no desenvolvimento não só local, como também da região norte, até porque chegou a empregar 1500 funcionários. Muitos deles, oriundos de Chaves ou de Coimbra, optavam por usufruir dos dormitórios que existiam nas instalações. No entanto, houve tantos outros que construíram as suas residências, nos arredores, com ajudas da própria Cerâmica de Valadares na aquisição dos materiais. Se o dinamismo já era conhecido em termos de trabalho, transbordou para a região em termos comerciais, de mobilidade e económicos e são várias as recordações dos vendedores ambulantes à entrada desta imponente indústria. “Nunca conheci nenhuma empresa assim. Só nos resta pensar no orgulho que os fundadores sentiriam, hoje, na comemoração dos 100 anos da nossa Cerâmica de Valadares”, finaliza Henrique Barros.